Cláudio Silva Educação |
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Ex-secretário de Educação em Apucarana e ex-presidente da UNDIME-PR. É proprietário da Escola Nossa Senhora da Alegria e Colunista do AN Notícias e Jornal Apucarana Notícias.
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A ADOLESCÊNCIA FURTADA - Parte Io culto à precocidade
Podemos estar apressando o amadurecimento dos nossos filhos e as conseqüências poderão ser graves. Acompanhando a tendência da vida moderna, procura-se “ganhar” cada vez mais tempo, antecipando ou mesmo “queimando” etapas importantes para o desenvolvimento. huma.
Determinados setores da agroindústria e da pecuária, graças aos avanços tecnológicos, tem, realmente conseguido antecipar, por exemplo, os tempos de colheita das produções agrícolas, bem como as épocas de abate de animais, na busca cada vez maior por lucratividade. Atualmente, a tecnologia permite que um frango atinja artificialmente 2,3Kg a 2,5kg em pouco mais de 40 dias, o que no passado só era alcançado em 1 ano. “Musculatura” de 1 ano com o coração de 40 dias. Um novilho, atualmente, chega a atingir 18 arrobas, estando pronto para abate, aos dois anos e meio, o que há vinte anos atrás só era alcançado após 4 ou 5 anos.
O preocupante dessa tendência dos “tempos modernos”, é que ela tem também influenciado aspectos relacionados ao desenvolvimento humano, criando uma cultura de “adultização” precoce. O que pode ser percebido mais facilmente e de forma cada vez mais crescente nas áreas do esporte e da moda. Veja-se o caso de “atrizes” e modelos mirins, por vezes empurradas pelos pais para uma vida de adultos em miniatura, imitando modos de vestir e agir, que chegam a beirar o caricato. Igualmente no esporte. O Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 26.08.2011, trazia uma manchete curiosa: “Garoto de 10 anos ‘rouba a cena’ e treina com Ganso e Neymar”, sobre um menino de 10 anos de idade, contratado pelo Santos Futebol Clube. O cantor e ídolo pop Justin Bieber, hoje com 17 anos, assinou seu primeiro contrato profissional aos 14 anos. O já citado craque de futebol, Neimar, a estrela mais reluzente do futebol brasileiro na atualidade, é um dos mais conhecidos dentre esses casos de precocidade, tendo inclusive, recentemente, tido um filho com uma garota de 17 anos .
Esses precoces, por conta da expectativa de riqueza e sucesso, tem o seu desenvolvimento apressado, sendo “retirados” do ritmo normal das pessoas comuns para serem moldados nas indústrias de talentos. Um negócio milionário voltado a mercados altamente lucrativos, que chega a se utilizar de expedientes do Taylorismo e do Fordismo, sistemas voltados à produção em escala industrial. No caso do esporte, em pouco tempo ganharão físico desenvolvido e terão as habilidades aprimoradas, mas a cabeça e o coração ainda serão de um adolescente. Um famoso jogador de futebol que frequentemente é notícia por envolvimentos em encrencas, me lembra bem um desses novilhos precoces, por parecer um gigante de músculos com a imaturidade de um adolescente inconseqüente.
Ao olharmos a sucessão de fatos que tem marcado a carreira de alguns desses astros e estrelas oriundos desse processo de precocidade, é perceptível a falta de estrutura pessoal para lidarem com a realidade artificial em que vivem. São ocorrências que vão de farras com o dinheiro fácil, consumo de álcool e drogas, a envolvimentos em ações criminosas. São meninas e garotos que tiveram sacrificadas etapas importantes da sua infância e adolescência, e que segundo a psicologia são fundamentais para o desenvolvimento humano. Porque nelas é que serão delineadas as bases para o amadurecimento psíquico e emocional.
Quais terão sido as falhas ocorridas no seu processo de desenvolvimento? Nossos filhos podem estar trilhando os mesmos caminhos? É o que tentaremos refletir na segunda parte deste artigo. Aguarde.
Pense nisso!
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*Cláudio Silva é mestre em Educação, Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR.
Ficha Técnica:
Estrutura: Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva (acadêmica de jornalismo)
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma
Participação especial: Cláudia Layla Gonçalves da Silva
(mais crônicas do professor poderão ser acessadas em http://profclaudiosilva.blogspot.com)