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Cláudio Silva
Educação
Ex-secretário de Educação em Apucarana e ex-presidente da UNDIME-PR. É proprietário da Escola Nossa Senhora da Alegria e Colunista do AN Notícias e Jornal Apucarana Notícias.
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, pois o Site e Jornal Apucarana Notícias pode não comungar com as mesmas ideias.
03/09/2013 11h08

AUTÔNOMOS OU ADESTRADOS? - Parte IIo fenômeno de gado


O escritor Nelson Rodrigues, criticando a postura padronizada e às vezes comodista, observada na socionomia, alertava com a famosa expressão “toda unanimidade é burra”. Ou no mínimo perigosa, completamos. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar, submete-se a que pensem por ele, daí o perigo. Porque por vezes certos posicionamentos coletivos podem ser consequência de manipulação, resultando numa consciência coletiva adestrada, de pessoas condicionadas a pensar e decidir irrefletidamente.

Posicionar-se com a maioria é  mais  confortável, porque  não compromete. Em certas  situações pode ser  uma atitude de fuga de  responsabilidades, pois  serve como  uma  proteção cômoda  para  justificar  meus  atos, mesmo  que errados. É o fazer sem senso crítico, simplesmente porque todos estão fazendo. Talvez o caso mais emblemático tenha sido o julgamento mais famoso da história, que  teve de um lado um bandido e assassino, e de outro um homem inocente. Ao público presente caberia o veredito, como permitia o costume naquela circunstância. Respeitando as confessionalidades, servimo-nos do texto sagrado para iluminar a reflexão. O  juiz indaga: “quem vocês querem que eu solte, Jesus ou Barrabás?”  A resposta é conhecida por  todos. Mas a expressão "Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (Mt 27,25), expressa o  fenômeno de gado, porque no inconsciente coletivo já estava cristalizada a decisão cega, induzida pelos chefes dos sacerdotes ( Mt, 27,20). Em outras  palavras, não nos importa se  é  inocente ou  não, já decidimos, queremos o seu sangue.
 
 Ir irrefletidamente com a maioria, pode também não ser  atitude inteligente. Veja  quantas  pessoas  leem determinado livro ou compram produtos apenas porque estão  nas  listas dos  mais  vendidos. Mas  será que a  qualidade corresponde? Quanta literatura  “água  com açúcar” é despejada  goela  abaixo, induzida por um marketing agressivo! Caetano  Veloso é um artista que a  mim sempre pareceu estar  à  frente   do  seu  tempo. Protagonizou um fato inusitado,  quando num trabalho  de  pesquisa encontrou uma  canção que decidiu regravar. Uma  música que no passado  havia  sido  malhada  pela  crítica  como algo sem valor, execrada pela maioria dita culta. Mas ele, exercendo princípios de autonomia, consegue enxergar qualidades estéticas que o compositor havia empregado, que revelavam uma sensibilidade apurada para descrever  o  sentimento  de  alguém privado do  convívio com a  pessoa  amada. E  quando, com o  seu  talento admirável a interpreta,  utilizando simplesmente  voz e  violão, revela uma verdadeira pérola. Quer  conferir? Ouça Caetano interpretando “Você  não  me  ensinou a  te  esquecer”, de  Fernando  Mendes, lançada originalmente em 1978, e  que recentemente foi tema  do  filme  “Lisbela e  o  Prisioneiro”.

Um outro alerta pode ser encontrado na  primeira cena do filme  “Tempos  Modernos”. Charles  Chaplin com a  sua genialidade, e sem inserir uma  única  palavra, em duas sequências de  poucos segundos, chama a atenção para o  perigo do desenvolvimento de comportamentos de gado na sociedade industrial emergente, caracterizada pela  padronização e ações em série. A primeira  cena mostra  um bando  de  ovelhas correndo  umas  atrás  das  outras. Ato  contínuo, quase  que repete  a  mesma  cena, só que  com pessoas andando apressadas na cidade movimentada, gado humano. 

 Émile Durkheim (1912), considerado  um dos  pais  da  sociologia moderna, estudou os  processos  interpessoais que  produzem o que ele definiu como consciência  coletiva. Esta, descobriu, nasce das interações  entre  as  pessoas. Portanto, é preciso sempre  se  questionar, e orientar os nossos filhos e  educandos, se em determinadas situações estamos agindo  como indivíduos conscientes e autônomos, ou  simplesmente como gado adestrado, que segue  a  manada. O que pode ser perigoso, pois os resultados poderão ser desastrosos no médio e longo prazos. O alerta  de Paulo  Freire é muito atual!
 
 
"Quando todos pensam igual, é porque ninguém está pensando!" ( Walt Lippman )
 
Pense nisso!

*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR, foi Secretário Especial de Ensino Superior de Apucarana-PR ( gestão 2012), secretário Municipal de Educação (gestões 2005-2008 e 2009-2012 ). É diretor do Instituto Educacional Escola Nossa Senhora da Alegria.
Ficha Técnica:
Estrutura: Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva - MTE 0009817/PR
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma