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Cláudio Silva
Educação
Ex-secretário de Educação em Apucarana e ex-presidente da UNDIME-PR. É proprietário da Escola Nossa Senhora da Alegria e Colunista do AN Notícias e Jornal Apucarana Notícias.
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, pois o Site e Jornal Apucarana Notícias pode não comungar com as mesmas ideias.
25/06/2012 16h31

FLORES DE PLÁSTICOPARA REPENSAR A VIDA E A AÇÃO EDUCATIVA

Hoje  quero  dividir  com vocês, principalmente educadores  e  pais, a crônica “Flores de  Plástico”, escrita  pela  minha  esposa para  recepcionar  os  alunos e  pais  na  volta  às  aulas. Um verdadeiro  repensar  da  vida e  da  ação  educativa. Boa  reflexão!

Flores de Plástico

           *Por Luzia Silva

Minha mãe gostava muito de flores. Todos os tipos: em ramas, galhos, arbustos, folhagens, árvores... Minha lembrança de infância sempre vem à tona, ela plantando, replantando, regando, podando. Os jardins da minha casa sempre estavam floridos. Ela tinha flores de todas as estações. No verão eram as rosas de todas as cores que floriam, a trepadeira de rosinhas brancas compunha uma obra de arte natural, também o bico-de-papagaio brotava e coloriam de vermelho nossos jardins e os antúrios floriam majestosos. No outono era a vez das margaridinhas, dálias, flor-de-maio, azaleias, gérberas e rabo-de-galo aparecerem. No inverno as begônias, lírios, copo-de-leite, flor-de-sino. Na estação das flores (Primavera) infinidades de flores embelezavam nossos jardins, crista de galo, boca-de-leão se destacavam.

 A cada visita a uma comadre, ela voltava com uma “mudinha” de uma espécie diferente para o nosso jardim.

            Sempre passava parte do dia a cuidar de suas flores. Quando a florada se ia, era tempo da poda, dos replantios, da adubação, na esperança de mais flores fortes e belas na próxima florada. Quando tinha que se ausentar de casa para viagens, deixava uma lista de recomendações para os cuidados com seus jardins.

            Tinha, também, flores de plástico ganhadas de presente. Mas essas passavam sempre despercebidas por ela, a não ser de três em três meses, quando enfiava os feixes de cabeça para baixo num balde com sabão em pó e deixava de um dia para o outro de molho para limpar as bostas de mosquitos que se depositavam nas pétalas. Nunca entendi porque os danados dos mosquitos insistiam tanto de fazer das flores de plástico da minha mãe o seu sanitário, nem minha mãe entendia!!! Na verdade, ela pouco se interessava em cuidar de algo sem vida. Achava perda de tempo, mesmo com um colorido e formato imitando as verdadeiras, comentava “coitadinhas não conseguem embelezar, por mais que tentam. Como podem encher de beleza algo que não tem vida? Que não podem perfumar o ambiente? Que não necessitam de carinho e cuidados? Que não tem nada para dar?” Minha mãe, foi uma mulher de grande sabedoria e sensibilidade.

         Hoje, quase 30 anos depois que ela partiu, ainda cuido de mudas de antúrio que foram plantadas por ela e embelezam o meu jardim. Não me canso de admirá-los, como são lindos, majestosos! Como foram cultivados por alguém especial da minha vida, para mim são únicos! Tenho muitas flores em meus jardins. Aquela experiência tão forte de infância está muito presente na minha vida, tanto que faço questão de cultivá-las, como numa “imitação inconsciente” ou “ação consciente de amor/saudade”, me unindo a minha mãe e sentindo muito presente seu carinho, amor e cuidados.

         Não tenho em minha casa flores de plástico, a não ser umas e outras que ganho de vez em quando e tenho que mergulhar no sabão em pó de três em três meses para tirar as cacas de insetos. No entanto, minha casa sempre está florida  Parte inferior do formuláriocom flores para todas as estações, orquídeas, bromélias, dama do abismo, violetas, flor de maio, lírios, beijinhos, azaleias, dálias, primavera, hortênsias, sálvias e claro, os antúrios (da minha mãe), lindos e maravilhosos!

         Penso que minha mãe não me deixou simplesmente uma lição de como deixar a casa mais humana e bonita cultivando flores verdadeiras, deixou uma grande lição para a minha missão de educadora, pois além de cuidar das minhas plantas verdadeiras também cuido de pessoas. Elas precisam de mim, do meu cuidado, do meu amor, das podas quando necessário, dos incentivos na medida certa, para florirem! Serão plenas na medida em que desempenho minha vocação em plenitude! Adoecem, sofrem, morrem de “sede e fome”, se descuido delas. Elas precisam da minha sensibilidade para com os seus sentimentos. Precisam me observar a cuidar “das minhas flores verdadeiras” para aprender a amar e também sentir a necessidade de amar e cuidar daqueles que vivem ao seu redor. Assim como aprendi a ser mais sensível com o que tem vida, por imitação, elas também aprenderão, observando-me.

        Muitas vezes me vejo tentada a trocá-las por flores de plástico, afinal é só mergulhar no sabão em pó de três em três meses!!! Neste momento lembro-me de minha mãe, do seu zelo por sua vocação, seu amor incansável pelas suas flores verdadeiras e me encorajo a cultivar seres verdadeiros!

        Daqui a pouco essa escola estará repleta de flores verdadeiras, porém as estações estarão ainda por acontecer. Virá o outono, o inverno, a primavera e enfim o verão novamente. Cada estação com suas flores e cuidados especiais. O ano todo para construir. Tem muito, muito serviço pela frente. Afinal, flores verdadeiras exigem muito mais de mim do que as de plástico, e respeitar o tempo da senhora natureza exige muita dedicação. Somos tentados a não aguardar a estação correta para o plantio, temos pressa. Pressa não combina com educação, não combina com flores verdadeiras. Obedecendo ao tempo da natureza e cumprindo com nossa parte, no tempo certo colheremos as flores. Quanto às flores de plástico?! Bem, particularmente, não há nada que eu possa comparar à satisfação de contemplar uma flor de antúrio cuidada por mim, sabendo que quem a plantou o fez com muito amor e zelo há mais de 60 anos!

            Sejam bem-vindos!

            Uma boa semana!

*A Professora Luzia Silva é especialista e pesquisadora em educação, diretora e sócio proprietária do instituto Escola Nossa Senhora da Alegria, em Apucarana (Pr).