Carregando...

Alerta!

logo Indisciplina -  Brasil desperdiça tempo de aula - Cláudio Silva - Colunistas - AN Notícias Indisciplina - Brasil desperdiça tempo de aula - Cláudio Silva - Colunistas - AN Notícias

Apucarana, 26 de Abril de 2024

SAIBA MAIS

Escolha um colunista:
Cláudio Silva
Educação
Ex-secretário de Educação em Apucarana e ex-presidente da UNDIME-PR. É proprietário da Escola Nossa Senhora da Alegria e Colunista do AN Notícias e Jornal Apucarana Notícias.
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, pois o Site e Jornal Apucarana Notícias pode não comungar com as mesmas ideias.
12/06/2011 16h08

Indisciplina - Brasil desperdiça tempo de aulaAs salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média de 55 países avaliados em estudo sobre o comportamento dos alunos

Publicado em 12/06/2011 | Marcela Campos 

Os estudantes brasileiros passam menos tempo em sala de aula do que os alunos de outros países e o período muitas vezes é mal aproveitado por causa da indisciplina. Um relatório divulgado neste ano pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que as salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média dos outros países avaliados.

O estudo, feito com dados de 2009 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), aponta que 67% dos alunos brasileiros entrevistados disseram que seus professores “nunca ou quase nunca” têm de esperar um longo período até que a classe se acalme para dar prosseguimento à aula. Entre os 65 países participantes da pesquisa, a média ficou em 72%.

 

 

Os países asiáticos são os mais bem colocados no estudo: no Japão, 93% dos estudantes disseram que os professores “nunca ou quase nunca” precisam esperar um período extenso para prosseguir com a aula. Em segundo lugar no ranking dos mais comportados aparece o Casaquistão, com 91%, seguido por Xangai (China), com 90%, e Hong Kong (China), com 89%. Os países onde os professores precisam esperar com mais frequência para que a turma se acalme são Finlândia e Holanda (63%), Argentina e Grécia (62%). O estudo foi feito com alunos de 15 anos de idade.

Cautela

A psicopedagoga Maria Sílvia Bacila Winkeler, professora do departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), considera que os resultados da pesquisa devem ser vistos com cautela, pois a noção de tempo é muito subjetiva. Para a coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Esta­­dual de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Sigrist Malavassi, também seria necessário verificar o que os entrevistados compreendem por indisciplina.

Embora as salas de aula da Fin­­­lândia estejam entre as mais indisciplinadas, por exemplo, o país foi o terceiro com a maior média em Leitura no Pisa 2009. Dos 65 países avaliados, a Finlândia também ficou entre os primeiros colocados em Matemática e Ciências, as outras duas áreas analisadas pelo Pisa. “Alguma coisa acontece na indisciplina deles que não está prejudicando o desempenho dos filandeses”, afirma.

Maria Sílvia explica que, para evitar a indisciplina, o aluno deve estar disposto a permanecer no ambiente escolar e a aprender, situação que depende do planejamento das aulas, das condições de trabalho do professor, do número de turmas com que o docente trabalha e da quantidade de alunos por classe, entre outros elementos. A forma de organização do tempo, com a fragmentação do ensino em aulas de 50 minutos, também pode contribuir com a indisciplina, já que é preciso acalmar as turmas após as transições. Além disso, o período é considerado curto para o desenvolvimento de determinados conteúdos. “No Brasil, há a necessidade de escolas em período integral. Fica difícil estudar conteúdos de disciplinas diferentes em tempo parcial”, avalia Maria Márcia, da Unicamp.

Carga horária

No Brasil, a carga horária mínima para os ensinos infantil, fundamental e médio é de 800 horas por ano, com 200 dias letivos. Um projeto de lei aprovado recentemente pela Comissão de Educação do Senado (PLS 388/2007) prevê que a jornada passe para 960 horas anuais. Na China, país com as maiores notas no Pisa, o ano letivo tem 245 dias, com 1.050 horas de aula por ano. Mas, segundo o conselheiro cultural da Embaixada da China no Brasil, Shu Jianping, o tempo também é fragmentado, com aulas de aproximadamente 40 minutos. No Japão, o ano letivo tem 950 horas.

Para Tânia Maria Braga Garcia, professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não adianta ampliar as horas de trabalho se outras condições não forem consideradas. “Em alguns países, o tempo é praticamente o mesmo [do Brasil], mas a forma de organização das atividades, o modo de funcionamento da escola e as condições de trabalho do professor, incluindo sua formação permanente, seus horários, concentração de atividades de trabalho em uma mesma escola e seu salário, são elementos que mudam a configuração do ensino”, diz.

 

 

Convergência de interesses

Há algum tempo, o professor do Centro Educacional Marista Diovanni de Souza, 22 anos, percebeu que os alunos do curso de qualificação profissional em Monta­­gem e Recondicionamento de Computadores se distraíam com o uso da internet e do celular durante as aulas no laboratório de informática. Em vez de perder tempo chamando a atenção dos mais desatentos, ele resolveu aproveitar a seu favor o interesse dos estudantes pelas novas tecnologias. “É difícil estar em um ambiente fechado e manter a atenção. Por isso passamos a usar redes sociais e fóruns para trazer o educando para o nosso lado”, afirma.

As ferramentas que os estudantes usavam apenas para diversão foram incluídas nas aulas. Os alunos com dificuldades de falar em público, por exemplo, agora po­­­dem mandar as dúvidas por meio de fóruns, chats ou redes soci­­­ais. As perguntas são respondidas na hora pelo professor ou até mesmo pelos outros alunos, que também estão conectados. “O rendimento e a disciplina mudaram bas­­­­tante. É complexo dar atenção para todos, pelo tempo de aula, e a interação entre eles é bem interessante. Os alunos que têm mais facilidade ajudam os outros”, afirma Souza. (MC)

Interrupção afeta desempenho

Segundo o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, salas de aula e escolas com mais problemas de disciplina levam a um aprendizado menor, já que os professores têm de gastar mais tempo criando um ambiente ordeiro antes que os ensinamentos possam começar. Estudantes que afirmaram que as lições de leitura são frequentemente interrompidas tiveram um desempenho pior que alunos que disseram que há poucas interrupções nas aulas.

Além da indisciplina, porém, há outros fatores que roubam um tempo precioso da aprendizagem, como a cópia de instruções passadas no quadro e as chamadas. “De forma genérica, se poderia dizer que a cópia, enquanto mera transcrição de informações do quadro ou do livro, para jovens alunos que já têm livros e computadores à disposição em suas escolas, corresponderia a uma baixa probabilidade de gerar interesse, participação e especialmente elaboração de conhecimentos por parte dos alunos”, afirma Tânia Maria Braga Garcia, professora do Departa­­mento de Teoria e Prática de Ensino e do programa de pós-graduação em Educação da Univer­­sidade Federal do Paraná. A professora Maria Márcia Malavasi ressalta que a escola precisa oferecer recursos pedagógicos que auxiliem o professor, para que ele não perca tempo escrevendo na lousa.

Improdutivo

Segundo Malavasi, outra atividade sem objetivo pedagógico e que toma muito tempo é a chamada. “Em classes muito grandes, um assistente poderia passar uma lista de presença para os alunos escreverem seus nomes”, sugere. Também não é recomendável utilizar o tempo da aula para organizar o espaço onde a atividade escolar será realizada ou para corrigir provas, quando esse trabalho deveria ser feito na hora-atividade (período extraclasse previsto na jornada dos professores e incluído em sua remuneração).

O problema é que nem sempre esses cuidados dependem apenas dos professores. “Perde-se tempo quando um recurso não funciona quando vamos utilizar, quando os espaços não estão organizados para o desenvolvimento de atividades, quando não há pessoas específicas na escola para nos ajudar a organizar um laboratório após a aula, coisas que não são definidas apenas pelos professores. Há também uma responsabilidade da escola e do sistema de ensino no tempo perdido”, afirma Tânia. (MC)

 

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1136168&tit=Brasil-desperdica-tempo-de-aula