Cláudio Silva Educação |
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Ex-secretário de Educação em Apucarana e ex-presidente da UNDIME-PR. É proprietário da Escola Nossa Senhora da Alegria e Colunista do AN Notícias e Jornal Apucarana Notícias.
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ELIS, SENNA E COVASMARIO COVAS UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
Crises, escândalos, prisão de políticos, julgamentos por corrupção. Temas que se tornaram frequentes no noticiário. É neste contexto que a crônica “Espécies em extinção”, de Medeiros, apresenta toda a sua atualidade. E que neste espaço cultural partilhamos com os amigos. Boa leitura.
“Mário Covas foi candidato à presidência do país em 1989 e não chegou nem ao segundo turno. Sempre foi um dos homens mais fortes do PMDB e atualmente governava o estado mais importante da Federação, mas era um nome nacional restrito à área em que atuava. Se não tivesse sido vítima de uma doença gravíssima e não tivesse reagido a ela com a lisura que lhe era costumeira, seria mais um político que, tivesse morrido de bala perdida, não receberia honras muito maiores do que um Anthony garotinho, governador do Rio de Janeiro.
No entanto, a despedida que o Brasil deu a Mário Covas foi da mesma envergadura das de Elis Regina e de Ayrton Senna, dois ícones nacionais. Que parasse São Paulo, justifica-se, mas seu velório parou o País. Emissoras de televisão tiraram programas de grande audiência do ar para transmitir ao vivo o cortejo fúnebre e os atos de sepultamento. Artistas estiveram no enterro. Foi um acontecimento que superou os limites do que seria razoável para uma pessoa que não era, decididamente, um artista popular. Quem foi o grande homenageado, personificado em Covas? O Brasil reverenciou a dignidade.
Elis Regina, não há duas. Senna, tampouco. Mas homens corretos, capazes de manter um nome limpo durante toda a vida, deveria haver às pencas. Inclusive no meio político. Principalmente no meio político. Falta de decoro deveria ser a exceção à regra: Maluf, um ou dois; Covas, centenas. Mas não sendo assim, a perda de um exemplar valioso da espécie comove e deixa a honestidade ainda mais órfã.
A reação coletiva de desamparo que a morte de Mario Covas provocou é boa e triste ao mesmo tempo. Boa porque demonstra que o brasileiro ainda reconhece a honradez, mesmo não convivendo muito com ela. E triste pelo mesmo motivo: não perdemos alguém que tinha uma voz única, como Elis, ou um talento de campeão, como Senna, mas um homem comum, que agia de acordo com seus princípios, que falava as coisas que pensava, que tinha humildade em reconhecer suas fraquezas e coragem para enfrentar as adversidades: pode isso ser tão raro?
Sabe-se que, em política, integridade é mesmo um luxo para poucos, mas há muito que desisti da ideia romântica de que se trata de puro azar o fato de só os incompetentes serem eleitos para cargos de direção. É falsa ilusão achar que os bons estão do lado de fora, e que se estivéssemos no lugar deles, tudo seria um oásis. De quem é a responsabilidade por uma corja estar no comando, senão dos próprios comandados? Fico pensando em toda aquela gente boa que escreveu cartazes e foi dar uma última espiada no caixão de Covas, como se estivessem se despedindo de uma espécie em extinção: quantos de nós, ocupando um cargo público que confere extremo poder, que lida com muito dinheiro e que obriga negociações de todos os quilates, manteria a mesma dignidade até o fim? Pergunto isso porque já vi muita gente reclamar do governo em altos brados e ao receber um troco a mais, ficar de biquinho bem fechado. De quem nos despedimos? Espero que não tenha sido de nós mesmos. “
Março de 2001
BIBLIOGRAFIA
MEDEIROS, Martha. NON-STOP. Porto Alegre: L&PM, 2012, p.179-181
CRÔNICA INÉDITA: AS RAPOSAS E O GALINHEIRO
http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2012/09/as-raposas-e-o-galinheiro-refletindo.html
Mais crônicas do Prof. Cláudio Silva em :
http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2011/10/cronicas-sobre-educacao-do-prof-claudio.html
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